Aforismos anestésicos...

... Nada mais nada menos que aquelas máximas que nunca ninguém leu mas todo interno/especialista ouviu da boca de um anestesista. Ou se amam ou se odeiam!!!







quinta-feira, 20 de maio de 2010

"Rotula sempre todas as seringas"

De facto, é uma máxima cumprida quase a 100 %... mas mal cumprida!
É raro ver seringas não rotuladas. As que encontrarem, deitem fora. É o que eu faço!
É comum ver seringas rotuladas com acetato ou numa etiqueta. Igualmente errado. Pode-se apagar ou ver-se muito mal ou nem se perceber a letra.
Para além disso é comum ver apenas escrito o nome do fármaco, ficando de fora a dose e o volume total.
Assim, o preconizado será de ter etiquetas escritas a computador com nome de tamanho adequado, dose, volume, não esquecendo a cor vermelha na rotulagem dos fármacos vasoactivos.

P.S.: Tenho de confessar que, em raras ocasiões não rotulo nada (quando estou com a macaca!!!). Mas mantenho um certo padrão de segurança: só eu é que mexo no tabuleiro, disponho as seringas sempre da mesma maneira (benzo -5mg/1cc, opiode -0,25mg/5cc, indutor -branquinho como o Michael, relaxante- fresquinho) e uso seringas de tamanhos diferentes. Não se esqueçam que isto é uma excepção!

terça-feira, 11 de maio de 2010

"Só se dá o que o doente precisa"

Funciona em 2 sentidos. Não dêem a mais, não dêem a menos!
O grande desafio está em encontrar o equilíbrio entre sobre e o infraanestesiado, entre o doente em depressão respiratória e o doente a contorcer-se com dores, entre a monitorização mínima e a máxima (mais invasiva) desejável.
Mais uma vez não se esqueçam: toda a manipulação e atitude que toma perante o doente tem consequências. A falta delas... Mais ainda!!!
Conselho: na dúvida, dêem sempre a mais... Por 3 motivos: porque eu mando, porque o doente merece e porque, definitivamente, "agarram" melhor o vosso doente.

domingo, 18 de abril de 2010

"Existem quilómetros de veias, só precisas de uma!"

... Pelo menos só precisas de uma para induzir um doente.
No entanto vê-se demasiadas vezes o staff do bloco aflitíssimo porque o doente não tem acessos.
Cabe-te a ti, enquanto anestesista, regular de novo a homeostasia da tua sala.
Não te podes esquecer de alguns conceitos básicos:
Primeiro, cateteriza-se um acesso venoso periférico com um catéter do calibre que a veia oferece (não se põe 18G em veias que parecem fios de cabelo, nem o contrário).
Segundo, não existem só veias no dorso da mão ou flexura do cotovelo. Olhem para a face anterior do punho, para o pé ou junto aos maléolos.
Terceiro, os acessos venosos centrais são nossos amigos e nós somos amigos deles. Jugular externa, jugular interna, subclávia, femoral. Basta um botãozinho de lidocaína e alguma destreza!

"Tem sempre um plano B e um plano C"

Máxima amplamente conhecida e aceite, citada aquando da abordagem de uma via aérea previsivelmente difícil.
Penso que podemos transpô-la para qualquer acto ou atitude anestésica que façamos.
Para além de necessitarmos de todo o equipamento devidamente verificado e preparado, devemos ter em mente estratégias alternativas no caso da primeira falhar, ou o nervosismo da falha levará a erros subsequentes em catadupa. O material relativo aos vários planos deverá estar sempre ao vosso alcance!
Não esquecer que os planos B e C devem ser do nosso total domínio (o plano B de uma via aérea falhada não deverá ser uma técnica que nunca tenham antes experimentado!).
Tenham igualmente em mente que uma técnica regional pode falhar ou ser insuficiente, com necessidade de complementação com uma anestesia geral, de forma que devem ter sempre o material de via aérea pronto a ser utilizado se necessário.

"Regra número 1 no bloco: se vês uma cadeira, senta-te nela!"

Uma pequena brincadeira, apenas para demonstrar que existem alguns tempos mortos e que devemos aproveitá-los para descansarmos (café, leitura, fechar a pestana!!!).
Nunca se sabe se alguma intercorrência surgirá e se passaremos as próximas horas numa correria de um lado para o outro.
Ou se o tempo previsto se prolongará para o dobro (como, aliás, acontece comummente!).
Poupem as varizes...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"Numbers are tools, not rules"

Pus esta máxima em inglês porque rima e eu sou um poeta!!!
Traduzindo: os números são um instrumento (de trabalho) e não uma regra.
Qualquer estatística, incidência, prevalência, representam apenas uma probabilidade expressa em percentagens. Confere-nos uma noção da realidade mas não a própria realidade, que depende de tantos outros factores (viezes do estudo, factores externos ao doente como a disponibilidade física e mental do staff). Não nos podemos esquecer que a experiência conta muito na vida profissional do anestesista pois a repetição de situações faz o mestre.
No entanto não deveremos ser redutores a ponto de dizer que os artigos dizem algo mas o que conta é como eu faço. Não é assim que se aprende, ensina e evolúi.
Na minha opinião deve-se tentar conjugar todo o material que nos faça crescer enquanto profissionais.

"Existe uma relação inversa entre a abilidade do cirurgião e a frequência com que ele se queixa de falta de relaxamento muscular"

Ou, "quando o bailarino é mau até o chão está torto".
Esta máxima é sabida a nível mundial, só pode ser verdadeira!!!
Um cirurgião nervoso, ou enervado, acha que está sempre tudo mal e tenta culpar os outros pelos seus erros (ou falta de jeito), em vez de os resolver.
Nós somos o primeiro alvo.
No entanto esse tipo de cirurgiões acaba por nos complicar também a vida (presumindo que seja um doente com patologia pesada, para um acto cirúrgico agressivo e com potencial para demorar o triplo de que estaria previsto).
Não nos podemos esquecer que alguns dos nossos objectivos serão os de transmitir segurança ao staff e oferecer as melhores condições ao cirurgião de forma que o meu conselho é o de dar uma dose de carga de relaxante semelhante à da indução e dizer-lhe. Discordo totalmente que se finja dar o que quer que seja (se não concordam com o pedido do cirurgião digam-lhe!). Às vezes ele pode mesmo ter razão!
Caso não funcione, saiam da sala do bloco, vão beber um café e... deixem lá o interno! Eheheheh!