Aforismos anestésicos...

... Nada mais nada menos que aquelas máximas que nunca ninguém leu mas todo interno/especialista ouviu da boca de um anestesista. Ou se amam ou se odeiam!!!







sábado, 4 de setembro de 2010

"O cirurgião tenderá a culpar o anestesista pelos seus próprios erros"

É verdade que se ouve algumas vezes a lamentação de um cirurgião de que a culpa foi da epidural ou que o doente não vai ser operado porque o anestesista não deixa ou que demorou mais tempo porque o doente não estava relaxado.
Não duvido que também existam anestesistas que estejam sempre a complicar e a pedir explicações fúteis aos cirurgiões.
Pouco tenho a dizer desta máxima pois é da natureza humana a procura incessante em "fugir com o rabo à seringa".
Só sei que todos nós cometemos erros e a responsabilidade deve ser assumida e muitas vezes repartida. Os erros deverão ser sempre avaliados e medidas tomadas para os evitar de futuro.
Apesar de soar a cliché, parece-me a única maneira de evitar esta máxima que tanta discussão e mal-estar traz a um staff de bloco.

"O cirurgião considera-se duas vezes mais rápido do que realmente é"

É impressionante a veracidade desta frase e pena é que assim seja porque poucos percebem como a nossa noção de determinado tempo operatório condiciona a nossa estratégia anestésica, enquanto manuseio de fluidos, abordagem de via aérea, profilaxia de náuseas e vómitos e invasibilidade do doente.

O ideal será conhecer bem o cirurgião, perceber em que fase operatória está, se há fase com maior probabilidade de perdas sanguíneas, pedir updates cirúrgicos horários e outras informações que considerem pertinentes.

Em jeito de conclusão, diria que o mais importante não será o tempo cirúrgico mas sim a qualidade anestésico-cirúrgica e a adequada comunicação entre o staff.

"Anestesiar bem é uma arte!"

Gosto desta máxima porque combina comigo... e porque é verdade.

Sempre achei interessante o facto de muitos anestesistas terem como passatempos artes tão variadas como a pintura, literatura, fotografia ou cinema, de as discutirem tão apaixonadamente e nelas participarem activamente.

Encarando o acto anestésico como mais uma contemplação artística, em que se tenta uma simbiose perfeita de atitudes/fármacos/coordenação/liderança/antecipação que promovam uma envolvência de segurança/tolerância/conforto/analgesia face a um qualquer acto cirúrgico, sai-se do bloco operatório com a total consciência de uma plenitude de satisfação perante todo um processo artístico vivido.



Tendo eu já constatado este facto, parece-me de todo incompreensível que existam anestesistas com perfil único de "mida, fenta, propofol e atracúrio" ao longo de todo o perioperatório!

terça-feira, 1 de junho de 2010

"Experiência é o que se consegue quando não se consegue o que se quer"

Ou ainda "Experiêcia é o que te permite reconhecer um erro quando o cometes pela segunda vez".
Pouco há a dizer sobre isto.
Tenham a inteligência de fazer várias vezes a mesma coisa, da mesma maneira, para se aperfeiçoarem e minimizarem a possibilidade de erro (se ficar bem feito, claro).
Habituem-se a falhar para se habituarem a acertar!!!

"Vê um; Faz um; Ensina um"

Parece-me que toda a prática e técnica deve passar por esta frase.
Leva a um só sentido: Experiência.
Porque em anestesia a repetição faz a experiência e a experiência faz o mestre.
E só se aprende fazendo... e errando... e ensinando... e já chega de clichés por agora!

"The laryngoscope is a tongue retractor, not a tooth extractor!"

Leio esta máxima e não consigo parar de rir!!! É que já aconteceu a todos!!!
Ups, mais trabalho para a fada dos dentinhos! E para o estomatologista.
Porque é necessário, depois de nos rirmos e de nos sentirmos aliviados por ter conseguido intubar finalmente o doente, de nos responsabilizarmos pelas peças dentárias extraídas no processo.
Devemos explicar o sucedido ao doente e, se ele desejar, promover uma consulta de reabilitação oral. Devo confessar que, nas felizmente poucas vezes que arranquei inadvertidamente umas dentuças, os doentes me agradeceram por tão amável gesto, tal a podridão dos mesmos!
Já agora, optimizem a altura da soga e da própria marquesa por forma a obterem uma laringoscopia óptima, antes de pensarem em bascular o laringo...

"As ampolas de 1 ml são todas parecidas!"

...Sobretudo se são do mesmo laboratório. Lembro-me de ver no H. S. José as ampolas de atropina, neostigmina e adrenalina, cuja cor da letra era a única distinção!
Existem algumas soluções que permitem não cometer o erro de administrar o que não se quer, por vezes com sérias consequências.
Solução nº1: Olhar para o nome da ampola antes de a abrir!
Solução nº2: Dispôr as ampolas longe umas das outras nas gavetas.
Solução nº3: Padronizar toda a arrumação das gavetas dos fármacos.

Se mesmo assim o erro acontecer, TRATAM-SE as consequências, sem medos!!!